| Imagem de 3I/ATLAS, capturada em 26 de novembro de 2025 pelo Espectrógrafo Multi-Objeto Gemini ( GMOS ) no Observatório Gemini Norte, em Maunakea, Havaí, um observatório financiado pela Fundação Nacional de Ciência dos EUA (NSF) e operado pelo NOIRLab da NSF. Esta imagem é composta por exposições feitas através de quatro filtros — azul, verde, laranja e vermelho. As exposições foram centradas em 3I/ATLAS, enquanto as estrelas de fundo aparecem como rastros. O halo verde brilhante em forma de lágrima ao redor de 3I/ATLAS apresenta uma cauda anti-rabo na direção do Sol, para baixo e para a esquerda. (Crédito da imagem: Observatório Internacional Gemini/NOIRLab/NSF/AURA/B. Bolin ) |
Um objeto vindo de outro sistema estelar revela, através de uma dramática mudança de cor, os segredos de sua composição e os efeitos da sua viagem perto do Sol.
O Universo continua a nos surpreender com seus fenômenos extraordinários. Em novembro de 2025, o Observatório Gemini Norte, no Havaí, capturou uma imagem que está a fascinar a comunidade astronómica: o objeto interestelar 3I/ATLAS, fotografado quatro semanas após sua passagem mais próxima do Sol (periélio), exibia um intrigante halo verde brilhante.
Esta transformação cromática, de um tom avermelhado antes do periélio para o verde atual, é mais do que um espetáculo visual; é uma janela para a composição e o comportamento deste viajante cósmico.
A Transformação Capturada: Vermelho para Verde
A evidência é clara e está documentada. Em 4 de setembro de 2025, o telescópio gêmeo Gemini Sul, no Chile, registrou o 3I/ATLAS com uma coloração avermelhada ao seu redor. Apenas algumas semanas depois, em 26 de novembro, a imagem do Gemini Norte mostrava um halo verde em forma de lágrima.
Esta imagem é uma composição de exposições através de quatro filtros — azul, verde, laranja e vermelho — centradas no núcleo do objeto. Os astrónomos suspeitam que a nova cor verde seja o resultado da emissão de moléculas de carbono diatómico (C₂), compostos que, quando excitados pela radiação solar, emitem luz no espectro verde.
Por que a Mudança de Cor? A Ciência por Trás do Fenómeno
A passagem pelo periélio funciona como um gigantesco experimento de química cósmica. À medida que o objeto se aproxima do Sol, o calor intenso sublima (transforma diretamente de sólido para gás) os gelos e materiais voláteis contidos no seu núcleo ou superfície.
- Fase Pré-Periélio (Vermelho): A coloração avermelhada, comum em muitos corpos do Sistema Solar, é frequentemente associada à presença de compostos orgânicos complexos (como tolinas) ou poeira rica em carbono que foi processada pela radiação ultravioleta ao longo de milénios no frio do espaço interestelar.
- Fase Pós-Periélio (Verde): O aquecimento súbito pode libertar materiais diferentes dos gelos superficiais, expondo ou ativando compostos voláteis presos no interior. O carbono diatómico (C₂) é um candidato principal para a emissão verde. Este gás é comum em cometas do nosso próprio sistema e é conhecido por produzir uma luminescência verde quando excitado pela luz solar.
Portanto, a mudança de cor indica uma alteração na composição molecular da pluma de gás que o objeto expele. O calor solar está, literalmente, a "cozinhar" ingredientes diferentes do seu interior, revelando uma composição mais complexa do que a sua aparência inicial sugeria.
Além da Luz Visível: Raios-X e Coincidências Cósmicas
O estudo do 3I/ATLAS não se limita à luz visível. Em 3 de dezembro de 2025, o observatório espacial de raios X XMM-Newton, da Agência Espacial Europeia (ESA), observou o objeto durante 20 horas. A imagem resultante, semelhante a uma obtida anteriormente pelo satélite XRISM da JAXA, mostra um brilho em raios X.
Este brilho não vem do núcleo sólido, mas da interação do vento solar (um fluxo de partículas carregadas do Sol) com a nuvem de gás que envolve o 3I/ATLAS. Quando partículas solares energéticas colidem com os átomos e moléculas da pluma do objeto, podem excitar ou ionizá-los, fazendo-os emitir raios X. Este fenómeno é uma poderosa ferramenta para estudar a densidade e a extensão da atmosfera temporária (coma) do visitante interestelar.
Uma discussão intrigante levantada pelo astrónomo Avi Loeb envolve uma possível coincidência angular entre a direção de chegada do 3I/ATLAS e a da explosão de raios gama GRB 250702b, a mais longa já registrada (cerca de 7 horas).
Embora a proximidade no céu (separação de 17 graus) em julho de 2025 pareça notável, Loeb calcula que, ao longo dos 8.000 anos estimados de viagem do objeto através da Nuvem de Oort, tais alinhamentos com eventos cósmicos brilhantes e aleatórios como este não são apenas possíveis, mas estatisticamente esperados ao longo de milénios. A conexão é, portanto, provavelmente uma fascinante coincidência do cosmos, e não uma relação causal.
O Significado de Estudar Visitantes Interestelares
O 3I/ATLAS é um verdadeiro embaixador de outro sistema estelar. Ao contrário dos cometas e asteroides nativos do nosso Sistema Solar, que se formaram a partir do mesmo disco protoplanetário, estes viajantes interestelares carregam consigo a assinatura química do seu sistema natal.
Cada observação — seja da sua cor, espectro, emissão de raios X ou órbita — é como analisar um grão de poeira de um mundo distante. Estudá-los permite-nos:
- Comparar a composição de outros sistemas planetários com o nosso.
- Compreender os processos de formação planetária em ambientes estelares diferentes.
- Avaliar a diversidade de materiais que são partilhados entre as estrelas.
A mudança para o verde do 3I/ATLAS é um lembrete vívido de que estes objetos não são pedras inertes. Eles são corpos dinâmicos que reagem de forma complexa e informativa ao seu ambiente, especialmente durante um encontro próximo com uma estrela.
Conclusão: Um Universo de Cores e Segredos
A transformação do 3I/ATLAS de vermelho para verde é um capítulo marcante na curta história do estudo de objetos interestelares. Ela ilustra como a astronomia moderna, com telescópios terrestres de ponta e observatórios espaciais, pode desvendar a natureza de viajantes cósmicos que atravessam a nossa vizinhança estelar.
Enquanto o 3I/ATLAS continua sua jornada para fora do Sistema Solar, as imagens e dados que recolhemos permanecerão. Eles continuarão a ser analisados, a inspirar novas teorias e, sem dúvida, a preparar-nos para a próxima visita inesperada de além do nosso Sol.
Fique atento aos céus. O próximo mensageiro interestelar pode já estar a caminho, pronto a contar a sua própria história através da luz que emite.
Fonte Base: Artigo de Avi Loeb no Medium, sintetizando observações dos observatórios Gemini, XMM-Newton e análises científicas. ASA, ESA, NOIRLab).